5 de abr. de 2009

Se os tubarões fossem homens



Se os tubarões fossem homens, eles seriam mais gentís com os peixes pequenos. Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais. Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim de que não moressem antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.



[...]
Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre si a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros. As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que, entre os peixinhos e outros tubarões existem gigantescas diferenças. Eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro. Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos da outra língua silenciosos seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.

[...]
Se os tubarões fossem homens, eles ensinariam essa religião. E só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida. Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros. Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões, pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar. E os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiros da construção de caixas e assim por diante. Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.



Tenho lido pouco, bem menos do que gostaria, mas vez ou outra encontro textos maravilhosos como estes de Bertolt Brecht em sua rica antologia poética.



Brecht foi um destacado dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX. Seus trabalhos artísticos e teóricos influenciaram profundamente o teatro contemporâneo, tornando-o mundialmente conhecido pelas apresentações.

Brecht tem, sobre a poesia, o mesmo pensamento que tem sobre a arte
dramática. Maneja-a da maneira mais sábia em defesa da liberdade do homem. Há, em seus poemas, o mesmo sentido épico e didático de suas peças teatrais. Recusa-se a aceitar uma poesia alheia aos acontecimentos sociais. Exige que ela seja atuante sem perder, entretanto, o seu sentido artístico. A poesia moderna deve estar ao lado da revolução
.

4 comentários:

Ana Luísa disse...

Nossa, mto lindo e verdadeiro o texto
;D
Bjoss

Daniel Savio disse...

E no final das contas, será que o homem não é um tipo de tubarão?

Hua, kkk, ha, ha, brincadeira com um fundo de maldade.

Fique com Deus, menina M. Nilza.
Um abraço.

Anônimo disse...

Não sei bem se o sabe, mas, Bertold Brecht citou: "Um homem tem sempre medo de uma mulher que o ame muito."

Para mim, o auge seria uma peça escrita por Brecht e Shakespeare, juntos.

Nada mal.

Embora eu prefira Beckett, uma vez que ainda espero por Godot... incansavelmente.

Até.

Citadino Kane disse...

"Dizem violentas as águas
do rio que transborda
e que tudo arrasta no entorno...
Mas, não dizem violentas as margens do rio que as oprimem"(Brecht)

Pôxa Nilza!
Que saboroso ler o militante Brecht, profundamente humano, humano demais!
Quero te fazer um pedido, pode ser? Vai lá no meu blog e assista o vídeo de uma toada que gravei junto do meu amigo Duda Bueres, faço a 2ª voz, quase imperceptível, ahahaha... Como deve ser toda 2ª voz, não sou afinado, mas vale o esforço. Escute e se possível divulgue pra gente descolar uma grana e pagar os músicos do CD que acabamos de gravar, ok? Se não quiser divulgar, pelo menos escute o nosso som, ahahaha...
Beijos,
Pedro